História da Escola de Química
A origem da Escola de Química confunde-se com o início do ensino especializado da Química no Brasil, cujas raízes podem ser identificadas antes mesmo de terminar a Primeira Guerra Mundial.
Neste período vários cientistas franceses e ingleses clamavam contra o atraso dos conhecimentos químicos em seus países, em face do desenvolvimento alemão, especialmente em assuntos da Química Orgânica.
Essas advertências propagaram-se pelo mundo inteiro através de livros e revistas e repercutiram nos meios intelectuais brasileiros. No Brasil o ensino de Química foi implantado através de cadeiras de apoio para os cursos de medicina, engenharia e farmácia.
As atividades na área da Química foram ganhando corpo no país e tiveram evidência na Exposição do Centenário da Abertura dos Portos, em 1908. Em 1909 era criado o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, quando então atividades voltadas para o setor químico ficaram sob sua responsabilidade. Em 1918 foi criado o primeiro curso oficial para a formação de Técnicos Químicos em um Instituto de Química que logo após se tornou Instituto de Química Agrícola. Em 1919 foram criados oito cursos de Química Industrial, anexos a escolas superiores que já contavam com laboratórios e docentes. Em 1920 foi organizado o Curso de Química Industrial Agrícola, na Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária (ESAMV), situada na Alameda São Boaventura, em Niterói. Em 1927, a ESAMV se transferiu para a Urca, coabitando o prédio ocupado pelo Ministério da Agricultura, o mesmo anteriormente usado para a Exposição do Centenário.
Em 1930, o curso de Química Industrial Agrícola passa a ter a denominação de Curso de Química Industrial, iniciando a desvinculação com suas origens veterinárias e agrícolas. Em todo esse período é muito importante a figura do Prof. Freitas Machado, professor catedrático de Química Inorgânica e Analítica desde 1913 na ESAMV, mesmo antes da criação do Curso de Química Industrial Agrícola.
A Escola Nacional de Química (ENQ) é criada em 1933, vinculada à Diretoria Geral de Produção Mineral do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, e passa a ser responsável pelo Curso de Química Industrial da ESAMV. Sua sede continuou na Avenida Pasteur, na Urca, Rio de Janeiro, e sua organização foi com base em trabalho realizado pelo Prof. Freitas Machado, contando o curso com doze disciplinas distribuídas em quatro anos.
Esse currículo teve como particularidade a inclusão de estudos em microbiologia e tecnologia das fermentações, não usuais em outros Cursos de Química Industrial na época. O Prof. Freitas Machado foi o primeiro diretor da Escola Nacional de Química.
A primeira turma que estudou integralmente na Escola Nacional de Química formou-se em 1937, pois as turmas anteriores, de 1933 a 1936 foram oriundas da ESAMV.
Em 1944 teve início, por parte de alunos e professores da Escola, uma campanha para a criação do Curso de Engenharia Química na Escola Nacional de Química, com a intenção de adaptar o ensino às necessidades do País. Uma primeira proposta foi analisada em 1946 no Conselho Universitário da então Universidade do Brasil, quando foi aprovado o início da diplomação após a implantação completa da grade curricular proposta. Em 1951, esse mesmo Conselho aprova o novo Regimento da Escola Nacional de Química, prevendo a diplomação em Engenharia Química. Desta forma, a partir de 1952, a Escola Nacional de Química passou a ministrar o Curso de Engenharia Química, concomitantemente com o de Química Industrial. Em 1953 forma-se a primeira turma de Engenheiros Químicos da ENQ.
A Escola Nacional de Química sempre esteve atenta à demanda da sociedade, adaptando a sua estrutura curricular às necessidades tecnológicas da Indústria Química. Nas décadas de 50/60, com o apelo desenvolvimentista com a criação da PETROBRAS, o desenvolvimento da petroquímica e a criação da PETROQUISA (RJ), houve modificação do currículo, visando sua modernização através da formação de profissionais capacitados para enfrentarem os avanços tecnológicos da época. Periodicamente a Escola reavaliava sua estrutura curricular, visando introduzir modificações de forma a adaptá-la à realidade do Parque Industrial Brasileiro. Nesse período, a procura por engenheiros químicos foi crescente.
Em novembro de 1965, com a mudança do nome da Universidade do Brasil para Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Escola Nacional de Química passou a denominar-se Escola de Química (EQ) e a integrar o Centro de Tecnologia desta Instituição de Ensino Superior.
Com a implantação da Reforma Universitária (1968-1970) e a subsequente mudança para a Ilha do Fundão (1973-1974), a Escola de Química sofreu substancial modificação. As antigas cadeiras do ensino básico e fundamental foram desligadas da EQ e incorporadas aos Institutos do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Muitos professores da área da Química, com respectivos laboratórios, passaram para o Instituto de Química.
As atividades de pós-graduação na área da Química iniciaram no Instituto de Química, que começou suas atividades com essa vocação. Em 1962, o Prof. Alberto Coimbra, da Escola Nacional de Química, transferiu-se para o Instituto e criou o primeiro Programa de Pós-graduação em Engenharia Química, que iniciou nas instalações da ENQ com total autonomia de gestão de seus projetos e suas verbas. Logo a seguir, em 1965, por iniciativa do Prof. Kurt Politzer surgiu um embrião de Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Processos Químicos. No mesmo período foi criada a pós-graduação em Tecnologia de Processos Bioquímicos. Também em 1965 foi criada a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COOPE/UFRJ), congregando os programas de pós-graduação em Engenharia Mecânica e Engenharia Química.
Em 1973, o Curso de Química Industrial foi desativado, passando a Escola a oferecer somente o Curso de Engenharia Química, tendo em vista a necessidade de um maior número de profissionais de Engenharia Química para atender à ampliação do parque de indústrias químicas no Brasil, bem como a implantação dos Polos Petroquímicos. Na década de 80, a Escola de Química manteve sua atitude inovadora no ensino da engenharia química, introduzindo disciplinas obrigatórias como o Estágio, Engenharia do Meio Ambiente e Setores da Indústria Química Orgânica, onde eram abordados os setores industriais vigentes no país, como Petroquímica e Química Fina. Foram também introduzidas as disciplinas: Projeto Final de Curso, explorando a visão multidisciplinar da Engenharia Química e a disciplina Gestão Tecnológica, fornecendo aos alunos as noções de qualidade, aumento de produtividade e a importância do caráter empreendedor.
As atividades de pós-graduação na Escola de Química consolidaram-se na área da Tecnologia de Processos Bioquímicos. Nesse Programa, em 1988, foi criado o curso de doutorado. Com a expansão do número de doutores na Escola de Química e sua atuação em diversas áreas da Engenharia Química, em 1992 o programa de Tecnologia de Processos Bioquímicos foi ampliado, com a absorção de todas as áreas de atuação da Escola de Química, para um Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos.
A Escola de Química ingressou na década de 90, atendendo a demanda e atuando de maneira relevante nas atividades experimentais, quer em nível de bancada, quer em nível piloto nos seus quatro Departamentos: Engenharia Química, Engenharia Bioquímica, Processos Orgânicos e Processos Inorgânicos, a fim de introduzir na formação do seu corpo discente a mentalidade do desenvolvimento e otimização de processos. Em sintonia com os novos paradigmas na atuação dos profissionais, a Escola ampliou o leque de disciplinas optativas oferecidas, passando também a disponibilizar disciplinas na área de Comercialização e Marketing, em estreita colaboração com Ex-Alunos atuantes no Setor Produtivo. Em 1996, com o aumento de importância do Setor de Química Fina e após um longo processo de discussão, a Escola reativou seu Curso de Química Industrial, visando a atender às pequenas e médias empresas.
Em 2001, com os grandes desafios na área ambiental e na atuação sustentável das indústrias, em uma empreitada conjunta com a Escola Politécnica, foi criado o Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental, oferecendo o curso de mestrado profissional em Engenharia Ambiental. O corpo docente desse Programa conta com a participação ativa de docentes da Escola de Química, inclusive na sua coordenação. Em 2015, o Programa ampliou suas atividades com a criação do doutorado em Engenharia Ambiental, tendo seus primeiros alunos ingressado em 2016.
No final da década de 90 com a procura pelos cursos de Engenharia de uma forma geral declinando, houve uma grande mobilização no Centro de Tecnologia para modernizar os cursos e oferecer cursos novos. Deste grande movimento foram implantados em 2004 o curso de Engenharia Ambiental, compartilhado pela Escola Politécnica e Escola de Química, e os cursos de Engenharia de Petróleo e Engenharia de Controle e Automação, compartilhados pela Escola Politécnica, Escola de Química e COPPE. Nesse mesmo ano, a Escola de Química, aproveitando a sua experiência de atuação em biotecnologia e alimentos, ainda iniciou as atividades nos cursos de graduação em Engenharia de Bioprocessos e Engenharia de Alimentos.
Engajada no esforço nacional de aumentar o número de alunos em Universidades Públicas, a Escola de Química foi pioneira no Centro de Tecnologia da UFRJ e iniciou, em agosto de 2010, a implantação do turno noturno dos cursos de Engenharia Química e Química Industrial.
Na Ilha da Cidade Universitária há hoje uma trinca de renomados Institutos de ensino e pesquisa que levam o nome de ex-docentes, que também estudaram na Escola Nacional de Química, a saber: Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE); Instituto de Macromoléculas Professora Eloísa Mano (IMA); e o Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES/PETROBRAS).
A Escola de Química com seu histórico de formação de profissionais com um forte alicerce acadêmico e um intenso relacionamento com a área industrial, está mais do que nunca consciente de seu papel de liderança na formação de profissionais na área da Química em nosso país.